DOCUMENTÁRIO SOBRE ZANINE TRAZ DEPOIMENTOS DE MORADORES DE NOVA VIÇOSA
Vice-prefeito Ruberval vai sugerir projeto cultural em homenagem ao artista, falecido há 15 anos
Zanine: artista de peso internacional |
Nas salas especializadas em cinema de várias capitais
brasileiras, começa a ser exibido o filme “Zanine, Ser do Arquitetar”, primeiro
documentário a narrar a vida pessoal e profissional de José Zanine Caldas,
arquiteto, paisagista, maquetista, designer e escultor autodidata que se
destacou na década de 60.
O filme traz depoimentos de grandes nomes da cultura
nacional, como Oscar Niemeyer, Heloísa Buarque de Holanda, Ziraldo, Sérgio
Rodrigues, além de amigos e trabalhadores de Nova Viçosa, onde Zanine fundou
uma oficina de artesanato. Com produção da Pontos de Fuga e direção de André
Horta, o telefilme resgata a importância de Zanine, que há 50 anos já pensava
em sustentabilidade.
Documentário sobre o artista |
O artista nasceu em Belmonte/BA e morreu em Vitória/ES,
em 2001, e chegou a atuar também como professor, no Brasil e no exterior. Por
seu talento incomum, foi reconhecido como Mestre da Madeira. Seu trabalho
promoveu a integração do artesanato tradicional brasileiro e do modernismo de
forma singular.
HOMENAGEM
Ruberval: homenagem a Zanine |
Dentro da área de cultura e meio ambiente de Nova Viçosa, o vice-prefeito Ruberval Lima Porto manifesta a predisposição de recomendar à Câmara Municipal a possibilidade de um amplo projeto em homenagem ao artista que ajudou a projetar a imagem da cidade no mundo inteiro.
"Podemos pensar em algo que possa abranger aspectos ligados à cultura, como música e literatura, paisagismo, arquitetura, e também ao meio ambiente, como forma de eternizar o nome de Zanine. Vou conversar com alguns vereadores, professores e artistas, para, juntos, viabilizarmos um projeto que seja bem representativo", disse Ruberval.
ZANINE - VIDA E OBRA
Desde criança, Zanine era apaixonado por obras e
serrarias. Filho de um médico, com 13 anos ele começou a fazer presépios de
Natal para os vizinhos usando caixas de seringa do pai, feitas de papelão. Mais
tarde, tomou aulas de desenho com um professor particular e, aos dezoito anos,
foi para São Paulo, trabalhar como desenhista numa construtora.
Obras de Zanine |
Dois anos depois abriu firma própria no Rio de Janeiro
para construção de maquetes. Da oficina de Zanine saíam os protótipos de
projetos assinados por nomes como Lúcio Costa, Oswaldo Arthur Bratke e Oscar
Niemeyer.
Em 1948, em São José dos Campos (SP), uma sociedade entre
Zanine, Sebastião Henrique da Cunha Pontes, Paulo Mello, gerou a "Zanine,
Pontes e Cia. Ltda", mais conhecida como "Móveis Artísticos Z",
que produziu móveis por 12 anos para a classe média. O desenho dos móveis com
forte influência modernista foi assinado por Zanine até sair da sociedade em
meados dos anos 50.
Nos anos 60, a convite de Darcy Ribeiro, integrou o corpo
docente da Universidade de Brasília (UnB), mesmo sem diploma, como professor de
maquete. Como criador empenhado em integrar seus projetos à topografia natural
dos terrenos — nunca aterrou ou alterou solos para receber suas casas —,
apostou no cerrado do Planalto Central como palco de projetos paisagísticos.
Com o golpe militar de 1964 perdeu o cargo, tendo sido reintegrado apenas em 1987,
sem voltar a dar aulas.
Perseguido, Zanine chegou a se asilar na embaixada da
Iugoslávia, mas no último momento decidiu não viajar para aquele país.
Reapareceu ao final dos anos 60. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde
construiu dezenas de casas no bairro de Joatinga, um local de geografia
privilegiada, situado entre São Conrado e a Barra da Tijuca. Realizou alì uma
arquitetura ao mesmo tempo colonial e moderna, cuja escolha de material
privilegiava a preservação do meio ambiente e enfatizava o conceito de
autoconstrução.
ANOS 80 EM NOVA
VIÇOSA
Franz Krajcberb: amigo e parceiro de Zanine, assim como... |
Nos anos 80, ao estabelecer uma oficina para antigos
canoeiros em Nova Viçosa, em sua comunidade “proto-ecológica”, reassume sua
ligação com as técnicas caboclas e reinterpreta as tradições artesanais
regionais.
... o arquiteto Oscar Niemeyer |
À época Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma
capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico Buarque,
Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi. Lá ajudou a construir a residência do artista
Franz Krajcberg.
PREOCUPAÇÃO
AMBIENTAL
Em 1980, fundou o Centro de Desenvolvimento das
Aplicações da Madeira (DAM), No Rio de Janeiro, um núcleo de estímulo à
pesquisa sobre o uso das madeiras brasileiras na construção civil. Seu
principal objetivo era evitar a crescente destruição das florestas no país.
Durante muitos anos, Zanine foi o centro de uma polêmica
que tentou impedi-lo de construir por não ser um profissional diplomado. Chegou
a ser impedido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(CREA) de levar adiante a construção de alguns projetos. No entanto, pelo
domínio da técnica e materiais Zanine acabou sendo reconhecido como arquiteto
honoris causa. Lúcio Costa foi um dos defensores do título, causando polêmica
no meio. Em 1991 Lúcio Costa teve a honra de entregar-lhe o título de arquiteto
honorário, atribuído pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil).
No final da década de 80, seu trabalho foi exposto no
Museu do Louvre, em Paris, trazendo-lhe o reconhecimento internacional. No
mesmo período, deu aulas na escola de arquitetura de Grenoble.
Zanine morreu de enfarte, aos 82 anos. Já vinha sofrendo
de hidrocefalia e apresentava diversas dificuldades de comunicação e
raciocínio. Casado por seis vezes, deixou seis filhos, entre eles o arquiteto
José Zanine Caldas Filho, o designer Zanini de Zanine Caldas , que em seus
desenhos tem como inspiração os projetos do pai, também ganhando notoriedade por
móveis.
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